Relembre alguns fatos que marcaram o Governo Bolsonaro em 2019
Bolsonaro passou a gerir um país com alta expectativa de crescimento econômico, apoiado por equipe de ministros escolhidos de “maneira técnica”.
Passado o primeiro ano à frente do comando da Presidência, o ex-capitão do Exército já coleciona vitórias e derrotas que podem balizar os rumos brasileiros pelos seus próximos anos. Confira abaixo alguns momentos que mais marcaram o Governo Bolsonaro até aqui, e um deles é o sucesso na economia do Brasil. Confira:
Reforma da Previdência
Comandada pelo ministro Paulo Guedes, a área econômica é uma das mais elogiadas do Governo Bolsonaro. E entre as bandeiras carregadas pelo “posto Ipiranga” do presidente, a reforma da Previdência entrou na pauta do Congresso Nacional em fevereiro, sendo aprovada quase nove meses depois, definindo novas regras para a aposentadoria no Brasil.
Briga com governadores do Nordeste
Única região em que Bolsonaro não venceu Fernando Haddad (PT) nas Eleições 2018, o Nordeste tornou-se forte opositor do chefe do Executivo nacional. Contra os governadores nordestinos – os quais fizerem boicote em sua cerimônia de posse, Bolsonaro chegou a desferir diversos ataques. O caso mais emblemático foi quando o ex-capitão do Exército atacou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), apontando este como sendo “o pior” entre os governantes da região, referida como “Paraíba”.
13º Bolsa Família
Crítico do Bolsa Família quando deputado federal, enquanto presidente Jair Bolsonaro instituiu aperfeiçoamentos do programa símbolo das gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em outubro, Bolsonaro reconheceu a necessidade da transferência direta de renda ao assinar medida provisória que prevê o 13º pagamento do Bolsa Família. Com isso, R$ 2,58 bilhões serão destinados para cerca de 13,5 milhões de famílias ainda neste ano.
Briga com imprensa
Jair Bolsonaro adotou as redes sociais como seu principal canal de comunicação, para tanto escolheu as quintas-feiras para realizar transmissões ao vivo. Ao longo do ano, o presidente protagonizou embates contra veículos e profissionais de imprensa. Entre os casos mais célebres foi quando acusou a TV Globo de fazer promover "patifaria" e "canalhice" após divulgação de matéria que o relacionava com a morte de Marielle Franco.
Políticas ambientais
Já entre as mais sensíveis do Governo, o meio ambiente é área que virou o centro das atenções no Brasil em pelo menos três oportunidades (Tragédia de Brumadinho, incêndios na Floresta Amazônica e vazamento de óleo em praias brasileiras) Bolsonaro foi colocado na parede. Responsável por cuidar do Meio Ambiente, o ministro Ricardo Salles já foi até vaiado em sessão no Senado Federal.
Saída do PSL e criação de novo partido
Depois de ter passado por oito diferentes partidos, em novembro Bolsonaro resolveu deixar a sigla com a qual se elegeu presidente. Um mês antes, o ex-militar havia pedido para apoiador “esquecer o PSL”, dizendo que o presidente nacional da legenda, Luciano Bivar, estaria “queimado”. Atualmente Bolsonaro tenta engatar a criação de seu novo partido, a “Aliança pelo Brasil”.
Acordo com a China
A priori alvo de frequentes de ataques, a China passou a ganhar maior importância nos planos da gestão Bolsonaro. Para tanto, acordo entre ambas nações foi firmado com entendimentos nas áreas de política, economia, comércio, agricultura, inspeção sanitária, transporte, saúde e cultura. Para Bolsonaro, “essa relação bilateral em várias áreas é muito bem-vinda”.
Relação com Trump
A relação que Bolsonaro mantinha com o presidente Donald Trump se estremeceu ao longo do ano. Mesmo após “declaração de amor” feita pelo brasileiro, o republicano desistiu de apoiar o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e ainda anunciou tarifar o aço e o alumínio brasileiros, por suposta desvalorização intencional do real. Buscando amenizar a situação, Bolsonaro disse que, se for preciso, ligaria para Trump para resolver a questão.
Políticas de armas
Entre as principais bandeiras de campanha, a facilitação ao acesso às armas foi tema recorrente no primeiro ano de Governo Bolsonaro. Somente nos seis primeiros meses de mandato, o presidente editou sete decretos sobre posse e porte de armas no Brasil. Entre derrubadas e manutenções de decretos, Bolsonaro sancionou projeto de lei que permite posse de armas em propriedade rural.
Tensão com instituições
Com tom beligerante contra quem discorde ou critique suas ações, Bolsonaro foi centro de tensões com diferentes entidades em 2019. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Supremo Tribunal Federal (STF) e políticos foram alguns dos alvos favoritos do presidente. Nas redes sociais, Bolsonaro postou até vídeo em que se compara a leão atacado por hienas, em referência à instituições símbolos da democracia.
Filhos de Bolsonaro
Jair Bolsonaro tem estabelecido uma gestão com ativa participação da sua família, principalmente dos três filhos políticos: senador Flávio, deputado federal Eduardo e vereador Carlos. Todos já foram centro de polêmicas ao longo do ano. O 01 é apontado como participante de esquema de "laranjas" de quando ainda era deputado no Rio de Janeiro. Já Eduardo tentou lançar-se à embaixada dos EUA, mas diante de iminente derrota no Senado recuou. Por fim, Carluxo é tido como o responsável pelas redes sociais do pai, detendo tanta influência que já teria derrubado até ministros.
A política, como a vida, é uma caixa de surpresas. Da China aos EUA, de Jerusalém a Washington, o primeiro ano do presidente Jair Messias Bolsonaro foi repleto delas, comenta o jornalista Thomas Milz.Abaixo os comunistas da China e Venezuela, ouvia-se por toda parte no fim de 2018. "Nossa bandeira jamais será vermelha", era o lema. Um ano depois, devo constatar, o mundo está bem diferente.

Bolsonaro deixou de implementar muitas promessas, aponta Thomas Milz
Foto: DW / Deutsche Welle
Nesse ínterim, os comunistas chineses se tornaram amigos íntimos do Brasil, até mesmo ajudando o governo Bolsonaro a evitar que o megaleilão do pré-sal se tornasse um megafracasso. E aposto que o grupo chinês Huawei em breve construirá a infraestrutura 5G do Brasil. Mesmo que os EUA sob Donald Trump se oponham veementemente.
Surpresas também foram vistas nos países vizinhos. Em vez do maligno socialista Nicolás Maduro em Caracas, de repente quem cambaleia é o neoliberal Sebastián Piñera, presidente do Chile; e seu colega argentino, Mauricio Macri, já se foi de vez. Até Evo Morales, o único esquerdista com uma boa conexão com Bolsonaro, um pragmático e sobrevivente nato, foi-se embora. Se alguém tivesse me afirmado isso no começo do ano, eu teria dito que era louco.
Surpresas também foram vistas nos países vizinhos. Em vez do maligno socialista Nicolás Maduro em Caracas, de repente quem cambaleia é o neoliberal Sebastián Piñera, presidente do Chile; e seu colega argentino, Mauricio Macri, já se foi de vez. Até Evo Morales, o único esquerdista com uma boa conexão com Bolsonaro, um pragmático e sobrevivente nato, foi-se embora. Se alguém tivesse me afirmado isso no começo do ano, eu teria dito que era louco.
Mas a vida é cheia de surpresas - e também não é. A luta contra a corrupção, uma das bandeiras de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral, foi rapidamente suspensa assim que caiu na mira o filho do presidente Flávio. Os laços de família são fortes no Brasil, quer na esquerda, quer na direita.
Mas o emprego dos sonhos de embaixador em Washington acabou não se concretizando para o outro filho do presidente, Eduardo. De qualquer forma, em 2019 ficamos sabendo que Eduardo fala mal inglês. Mas, uma vez que seu pai não fala nada da língua de seu país dos sonhos, os EUA, isso é algo que Jair não havia percebido, até agora.
Mas certo está que ele notou que os EUA de Donald Trump não são o esperado melhor amigo. Os contratempos nas "relações especiais" com o irmão mais velho do Norte atingiram duramente os Bolsonaros. Não só a orientação da política externa do governo precisou ser questionada, mas o futuro projeto de Eduardo Bolsonaro de um movimento de extrema direita baseado no The Movement, de Steve Bannon, também sofreu com a recusa amorosa americana. O evento de fundação do movimento acabou se revelando um fracasso, semelhante ao primeiro congresso dos terraplanistas brasileiros, algumas semanas depois.
Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro residente nos Estados Unidos, também foi vítima da aproximação com a arqui-inimiga China. Em janeiro, ele criticara membros do partido presidencial PSL que haviam viajado para o Império do Meio. Agora o astrólogo mantém silêncio. As más línguas dizem que ele perdeu toda e qualquer credibilidade o mais tardar quando afirmou que o filósofo alemão Theodor W. Adorno foi o verdadeiro autor dos sucessos dos Beatles.
Por falar em PSL, poucas vezes se viu um presidente simplesmente implodir assim sua própria sigla, a que forma sua base do Congresso. Depois de passar 30 anos mudando de um partido para outro, como um nômade, Bolsonaro agora se atreve a fundar sua própria legenda personalizada.
Com os grupos do WhatsApp que o levaram ao cargo, ele não tem como fazer política no longo prazo. A "nova política" rapidamente bateu em seus limites, o discurso antissistema não basta mais. Bolsonaro precisa dos milhões do fundo partidário para moldar seu futuro político.
Será também uma questão de conteúdo? Até agora Bolsonaro não conseguiu implementar muito de sua "agenda de costumes". Ele não concretizou a Escola sem Partido nem o armamento de todos os cidadãos. Isso também se deve ao papel mais forte do Congresso, a quem Bolsonaro deu carta-branca na formulação de políticas.
Decisão planejada ou involuntária? Seja como for, ele até agora tem desapontado o campo evangélico, que o apoiou maciçamente em 2018. Ele não conseguiu realizar sequer a mudança da Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, anunciada como um dos seus primeiros atos oficiais.
As maiores expectativas, contudo, foram depositadas no início do ano em Paulo Guedes, o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro em questões de economia. Mas até agora não houve mudanças radicais em direção a uma sociedade eficiente e justa. Grandes assalariados e os privilegiados no Judiciário, política e entre os militares foram poupados da reforma da Previdência. Mas era de se esperar outra coisa?
E a privatização de empresas estatais como a Petrobras ainda está basicamente em aberto. Em vez disso, a gigante do setor energético foi mais uma vez instrumentalizada para fins políticos - por exemplo, para impedir uma greve dos caminhoneiros e evitar o fracasso do megaleilão do pré-sal.
Os saques do FGTS, destinados a estimular a economia, também são conhecidos de governos anteriores. A única novidade aqui é o fato de o ministro da Economia achar engraçado seu patrão insultar a esposa do presidente francês. Além disso, Guedes se revelou um apoiador de ideias autoritárias, como a reintrodução do AI-5.
Meus amigos me dizem que o Brasil se tornou ainda mais absurdo sob Jair Bolsonaro. "Estamos vivendo dentro de um tuíte de Carlos Bolsonaro", escreveu Anderson França, colunista da Folha. Mas me pergunto se o filho presidencial ainda está mesmo tuitando? Talvez eu tenha me acostumado de tal forma a essas surreais mensagens curtas, que atualmente elas nem me chamam a atenção.
Muitos eleitores de Bolsonaro estão agora percebendo que ele não produz nada além de muito palavreado, disse-me há alguns dias uma moradora de um bairro pobre da periferia de São Paulo. É para eu me espantar?
Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
Bolsonaro cumpre lição de casa na economia
Em outubro do ano passado, pela perspectiva do que observavam os investidores, Bolsonaro chega ao primeiro aniversário de sua eleição com a principal lição de casa concluída: uma reforma da Previdência com economia de R$ 800 bilhões em uma década – valor que supera, inclusive, a aposta dos mercados, que viam como mais provável uma reforma com potência fiscal de R$ 700 bilhões, de acordo com levantamento que fizemos com 122 investidores institucionais.
O êxito na aprovação das mudanças no sistema de aposentadoria, no entanto, não deve esconder que o caminho para chegar até ela não foi tranquilo. Esses percalços deixam indicativos importantes para acompanhar o processo de discussão dos próximos itens da agenda econômica.
Crises e polêmicas de Bolsonaro
A maneira como o presidente estruturou seu ministério já na saída das urnas provocou um princípio de crise com o Congresso. Responsáveis, lideranças do Poder Legislativo preferiram não travar uma briga pública e trabalharam em sintonia com a agenda econômica do novo governo, a partir de ajustes nessa relação.
A falta de uma base formal de apoio e a instabilidade gerada pelo processo de acomodação do grupo que chegou ao governo, no entanto, continuam deixando o Planalto mais suscetível às idas e vindas das negociações políticas.
Os desafios do presidente
A aprovação popular a Bolsonaro, embora tenha caído desde sua eleição, foi e continua sendo fator chave para o sucesso da agenda. Quanto mais popular o presidente, mais “tolerável” seu jeito passa a ser aos olhos de parte dos congressistas.
Além da relação com o Congresso, outro ponto a ser monitorado é o grau de convicção com que a equipe política, e Bolsonaro pessoalmente, atuarão para perseguir o restante da agenda.
Para o controle dos gastos públicos, são necessárias medidas que não contam com um histórico de debate e amplo apoio da população como era o caso das mudanças nas aposentadorias – no início do governo, 67% concordavam com a necessidade de alterações no regime previdenciário.
Estabilidade do funcionalismo público e o fim da reserva constitucional de parte do Orçamento para políticas sociais, por exemplo, estão entre os temas que pretendem ser enfrentados pela equipe econômica – e aí o alinhamento do presidente será testado novamente.
Ao menos, já está traçado o mapa do que pode trazer oscilações negativas ou ajudar no avanço dessa agenda.
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